abtl #8
Perspectiva
substantivo feminino
Modo através do qual alguma coisa é representada ou vista: na perspectiva dos capitalistas, o comunismo é desastroso.
Modo como se concebe ou se analisa uma situação específica; ponto de vista: tendo em conta a minha perspectiva, você está errado!
Tudo o que se consegue ver ao longe; aquilo que os olhos alcançam desde um certo lugar; panorama.
Aquilo que se percebe externamente; aparência.
Quando você olha essa imagem o que você enxerga no primeiro e no segundo elemento?
Certamente a maioria de vocês viram um passarinho em pé e um passarinho deitado, certo? Mas e se eu te dissesse que existe outra perspectiva para ver o segundo elemento? Você pode olhar novamente com mais atenção para ver se consegue enxergar outra coisa. Não enxergou?
Olhe a imagem abaixo
Eu não iniciei esse texto com a famosa imagem de duas pessoas olhando para um número 6 e 9 ao mesmo tempo, cada uma de sua perspectiva
porque era uma exemplo muito simples para mostrar o quanto a perspectiva de uma pessoa para outra pode mudar completamente como ela enxerga o mundo.
Apesar de quê se você enxergou a Cobra com chapeuzinho de festa, você enxerga a vida de uma maneira bastante diferente haha (sem julgamentos!).
O ponto principal aqui é: nós não enxergamos as coisas da mesma forma. Podemos até enxergar coisas de maneiras semelhantes porque são coisas convencionadas na sociedade e que entraram no senso comum, mas nenhum ser humano pensa e enxerga exatamente como o outro.
Nenhum ser humano consegue também enxergar toda a realidade que está a sua volta. Na verdade, a gente enxerga muito muito pouco dela, é como se enxergássemos somente o pedacinho da porta aberta da imagem destaque desse texto. É por isso que absolutamente tudo é uma questão de perspectiva, da nossa perspectiva. E é aí que o problema começa.
Eu já contei várias histórias aqui, mas eu costumava querer impor a minha perspectiva nos outros.
"Você precisa saber o que você quer para sua carreira daqui 5 anos! Como assim você não pensou nisso? Como você sabe se você está evoluindo se nem mesmo sabe onde quer chegar?”
A sua perspectiva é maneira como você enxerga o mundo e ela é totalmente atrelada as suas crenças. Crenças essas que são formadas durante toda sua vida, desde quando você é criancinha. O conjunto de informações que você se permite coletar durante o seu crescimento, molda o seu cérebro com “aquilo que é certo” para você.
O seu cérebro precisa desse montante de informação para fazer duas coisas básicas: 1) te manter vivo, pois, ao identificar informações contrárias às que estão no seu cérebro e que possam te colocar em perigo ele coloca o seu corpo em modo de defesa (aqui podemos dizer, identificar aquilo você acha errado ou perigoso) e 2) automatizar a maior parte das suas decisões diárias (do contrário seríamos seres totalmente diferentes tendo que pensar a todo momento para respirar, por exemplo).
Sim, o nosso cérebro é primitivo biologicamente falando. Evoluímos biologicamente muito mais lentamente do que a velocidade de evolução da tecnologia. Isso nos faz ter mecanismos de defesa primitivos, onde por vezes, nosso cérebro acha que estamos numa floresta correndo risco de vida, mas não, é só o fulaninho pensando diferente da gente mesmo!
Na minha visão, o problema começa quando nós queremos impor a nossa perspectiva no outro, ou em outras palavras, a nossa verdade. Como não enxergamos toda a realidade, nós achamos que a nossa verdade é a verdade em si. Mas o que exatamente é a verdade? Quem está certo e quem está errado? Sob qual base estamos decidindo que algo é verdade ou mentira? Que algo é certo ou errado? É o que Deus nos prega que é o certo? É o que Buddha deixou de ensinamentos?
Claro, vivemos em sociedade e como tal, cada nação possui suas leis, que são convenções coletivas do que é certo para a maioria das pessoas (maioria porque uma lei dificilmente irá agradar a todos). Sendo assim, ir contra a lei é ir contra o que foi definido como certo e portanto, como também convencionado pela sociedade, é preciso pagar um preço quando uma lei é cobrada.
Veja, essa é uma discussão bastante filosófica em que provavelmente haverão várias pessoas que vão concordar comigo porque pensam semelhante a mim e portanto tem uma perspectiva da realidade parecida com a minha e haverão pessoas que não vão concordar comigo porque tem outra perspectiva de vida, podem até concordar comigo em algumas coisas, mas nesse tema em específico tem outra visão.
A perspectiva que quero deixar aqui é que, não ser capaz de estar aberto a enxergar outras perspectivas vai te deixar olhando só para a fresta da porta, dentro do seu mundinho pequeno, sem praticamente evolução nenhuma. Não que você tenha a obrigação de evoluir, não que você tenha a obrigação de fazer qualquer coisa. É só que há um preço, e muitas vezes ele é muito caro, em não estar aberto a olhar por outras portas.
Eu como líder errei lá atrás a não estar disposto a olhar de outras perspectivas, de querer impor a minha verdade nos outros. Isso não funcionou e dificilmente funciona por muito tempo, simplesmente pelo que falei sobre o cérebro rejeitar informações diferentes das que ele considera como certas na tentativa incessante de te manter vivo e longe do perigo. Não há nenhuma chance de haver uma relação de confiança entre duas partes num contexto em que uma quer impor na outra a verdade que tem pra si mesma.
E como você pode ver, quando falo que errei, foi perante a minha perspectiva, a maneira como eu enxergo uma boa liderança. E não, como eu sempre falo, nada que eu escrevo na about to lead é para ser visto como uma imposição. Eu não tenho nenhuma intenção de ser o dono da verdade e dizer como as coisas tem que ser. Isso me faz sofrer menos na vida e isso me faz estar aberto a enxergar por novas portas, por novos mundos e por novas realidades.
Qual a sua perspectiva sobre a minha perspectiva?
Pablo, muito bacana você abrir que errou muito lá atrás quando queria impor a sua perspectiva. Diante do seu relato, fiquei matutando... será que esta imposição era consciente? Será que ela foi inconsciente por um tempo e depois ganhou total consciência ou vice-versa? Eu pergunto porque, por vezes, nós nem sequer nos apercebemos leitores de uma só fresta da porta. Por sorte ou não, eu sempre estive como líder (de fato ou por influência) desde muito cedo na minha trajetória, antes mesmo até do trabalho. Por outro lado, poucas vezes me vi, conscientemente, impondo uma perspectiva. No entanto, confesso que posso ter feito isto inúmeras vezes de modo inconsciente.
Se me permite uma discordância, eu acredito que existe uma obrigação, sim, em todo líder para que ele tenha múltiplas perspectivas, ou, pelo menos, consiga dialogar com diversas. Como você bem coloca, sem isto, as relações não duram, sejam elas quais forem. Uma pessoa que impõe as suas perspectivas tem uma vida solitária. Acredito que uma das grandes façanhas da vida é a troca, e que seja feita, sempre que possível, de forma genuína. Por mais que a manutenção da nossa perspectiva seja uma força primitiva de defesa, um dos fatores que nos tira deste estado primal é a habilidade de uma leitura mais ampla, deixar-se levar por outras perspectivas e, assim, trocar.
E, hoje, você já sabe aonde quer chegar em cinco anos? ;) Eu, não!
Oi Victor, obrigado pela reflexão. Cara, eu sinceramente não havia parado para pensar sobre se era consciente ou inconsciente. Mas olhando para o passado, eu sabia da convicção que eu tinha, eu só não entendia que a minha verdade, por mais que parecesse boa, por mais que eu genuinamente quisesse ajudar as pessoas, ela era a minha verdade e não necessariamente serviria para o outro.
Nós somos seres convictos e afirmativos ao invés de sermos questionadores de nós mesmos. Nós perguntamos já esperando a nossa vez para refutar o outro caso as opiniões divirjam muito. Então é muito difícil conseguir olhar por outras óticas.
Sobre a sua discordância, eu concordo com seu ponto de vista sobre o líder, mas eu prefiro pensar como eu disse no texto: ninguém é obrigado a nada, mas tudo tem um preço na vida. Se o líder não estiver aberto a múltiplos pontos de vista, a escutar ativamente as pessoas e a estar disposto a genuinamente se importar com o outro e não somente consigo mesmo, ele paga o preço de ser considerado um líder ruim e medíocre e as pessoas o abandona.
Pensar dessa maneira não me impede de mostrar e incentivar para as pessoas sobre a minha visão de liderança e como eu acredito que a liderança deveria ser. Mas eu prefiro acreditar que cada um é livre para fazer suas escolhas e torço que muitas delas escolham pelo menos partes da minha visão porque nós precisamos de líderes mais humanizados.
E cara, continuou acreditando no longo prazo hahaha então sim, sei onde quero chegar nos próximos 5 e 10 anos haha