Coragem
abtl #6
coragem
substantivo feminino
moral forte perante o perigo, os riscos; bravura, intrepidez.
firmeza de espírito para enfrentar situação emocional ou moralmente difícil.
Associar coragem com liderança não foi algo natural para mim. Acho que a primeira vez que eu realmente enxerguei liderança dessa maneira foi quando li a definição de líder da Brené Brown em seu livro A Coragem para Liderar
Eu defino líder como qualquer pessoa que assume a responsabilidade de encontrar o potencial em pessoas e processos e tem a coragem para desenvolver esse potencial.
Essa definição é da introdução do livro e tem muito sobre os primeiros livros que ela escreveu e que depois ela explica durante a leitura. Então, quando eu a li, eu fiquei literalmente por horas pensando porque exatamente eu precisava de coragem para desenvolver o potencial de alguém?
Depois de ter lido esse livro pela primeira vez lá em 2018, eu comecei a buscar uma resposta sobre essa pergunta. E eu encontrei a minha resposta. Uma resposta que mudou completamente minha visão de liderança e que talvez também possa mudar a sua também.
A responsabilidade como ela é
"Qualquer pessoa que assume a responsabilidade…Qualquer pessoa que assume a responsabilidade…", fiquei pensando. Eu achava que sabia a responsabilidade que eu tinha. Eu achava que sabia o que era liderar. Mas eu não sabia.
Liderar é algo que envolve muita responsabilidade. Quando parei para pensar profundamente sobre, tive até um pouco de medo. Eu como líder, tenho o poder e a influência de tornar a vida das pessoas que estão comigo melhor ou pior. O impacto positivo ou negativo na vida delas pode ser muito grande. Eu posso incentivá-las ou desanimá-las, eu posso desenvolvê-las ou atrasá-las, eu posso fazê-las prosperar ou estagná-las.
Eu vejo hoje muita liderança ignorando a responsabilidade que é liderar. Prefiro acreditar que elas ainda só não perceberam a responsabilidade que tem, como eu não havia percebido. Talvez elas ainda só não tenham percebido que é sobre ter coragem de colocar o outro na frente de si.
A coragem para liderar
Por si só, assumir tamanha responsabilidade para com a vida dos outros eu já diria que se precisa ter bastante coragem. Mas não é só isso que Brené quis dizer com coragem. Um dos pontos principais ao liderar que eu entendi no meio do caminho, é que liderança não é sobre mim e sim sobre os outros.
Para liderar de verdade eu tive que colocar os meus interesses em segundo plano e passar para primeiro os das pessoas que estavam comigo. Eu entendi que meus interesses e meus objetivos viriam através dessas pessoas e não mais diretamente de mim.
Para conseguir fazer isso, eu tive que ter coragem para deixar pra trás ego e orgulho e ser humilde o suficiente para escutar perspectivas diferentes sem julgar.
Eu tive que ter coragem suficiente para sentir a dor de não querer estar certo o tempo todo, de não ser afirmativo e impositivo com as minhas vontades e crenças nos outros.
Eu tive que ter a coragem para confiar em mim mesmo o suficiente para que em momentos de pressão e crise eu confiasse nos outros.
Eu tive que ter coragem para fazer o que precisava ser feito. Coragem para ter conversas realmente difíceis e desgastantes, que me deixavam sem energia.
Acima de tudo, eu tive que ter coragem de assumir os meus medos, as minhas fraquezas, minha ansiedade, as minhas dores para que tudo isso não fosse projetado nas pessoas que estavam comigo.
Eu tive que aprender a me aprender.
Emoções à vista
A minha maior fonte de coragem e o que mais me fez evoluir como líder desde que comecei nessa caminhada foi sem dúvida nenhuma o quanto eu conheço e controlo minhas emoções. Eu realmente aprendi a me aprender.
Por longos anos eu refletia diariamente sobre o que eu sentia e depois tentava identificar o porquê eu sentia. E com o passar dos anos eu aprendi a controlar meus principais gatilhos emocionais, aqueles que me deixavam irritado, frustrado, triste e com raiva. Sem controlar esses gatilhos, é muito fácil projetar a dor no outro, porque como já diria Brené em seu novo livro O Atlas do coração
O ser humano vai fazer de tudo para não sofrer dor, inclusive causar dor e abusar do poder.
Sem conseguir controlar os meus gatilhos, eu facilmente projetava a dor que eu estava sentindo nas pessoas. E isso me fazia ser um líder ruim e despreparado. Hoje, eu consigo inclusive parar reuniões em que eu não estou bem, porque algum dos poucos gatilhos que eu ainda não controlo foram acionados.
A base que eu encontrei para ser um bom líder foi me alfabetizar emocionalmente. Não aprendemos sobre emoção na escola, aprendemos português, matemática, história e geografia.
E eu fiz isso dia após dia, por anos, anotando em caderninhos (escrevendo mesmo) todas as emoções que eu sentia em momentos do dia, principalmente nas minhas interações com as pessoas e depois à noite refletia e tentava entender porque eu havia sentido naquele momento.
Ter aumentando e muito minha inteligência emocional foi o que mais me deu confiança e coragem para fazer o que eu precisava fazer como líder.
Uma fonte intrínseca de coragem
A minha maior fonte de coragem vem da confiança que eu tenho em mim. Uma das frases que eu mais falo para as pessoas é
"Se for possível resolver algo, eu vou dar um jeito e resolver. Não importa o que seja ou se eu vou ter que ficar noites acordado, se for possível, eu vou conseguir."
Essa confiança só existe hoje porque eu consegui abrir meu coração para minhas emoções, refletir e me livrar de amarras que eu tinha me colocado durante a vida. E é essa confiança que me fez um líder melhor. É essa confiança que faz as pessoas que estão comigo confiarem em mim também.
Confiar em si mesmo muda o jogo.
Certamente foi isso que abriu o caminho para que eu me tornasse o líder que sou hoje, isso eu tenho certeza. Hoje eu tenho visão total da responsabilidade que eu tenho. Hoje eu sei o que é liderar. Hoje eu sei o quanto impacto a vida das pessoas.
Você pode mudar a vida das pessoas para melhor ou para pior. A responsabilidade é sua.
Minhas indicações de livros sobre esse tema
A coragem para liderar - Brené Brown
Atlas of the Heart - Brené Brown
Responsabilidade extrema - Jocko Willink